domingo, 19 de janeiro de 2014

Café amargo


Ia misturando o café com a colherzinha num redemoinho eterno. os olhos fugiram do rosto e os pensamentos pareciam estar brigados com o dono. enquanto era ele um robô ali esfriando o café da manhã, a cabeça trabalhava em alguma outra coisa. preparava o próximo pesadelo ou negociava com o destino louco alguma clemência. conseguiu uma trégua e decidiram dar ao coitado um pouco de felicidade enquanto não voltava o determinismo ingrato pra lhe devolver o arsenal de lágrimas e palavras ruins. os olhos voltaram, cristalinos. a colherzinha cansou, o café ainda quente. o sabor era delicioso. naquela concessão piedosa de alegria, o homem sorria sem saber que acabaria a qualquer instante.

domingo, 19 de maio de 2013

Passarinhos

Perplexo com os pássaros se entreolhando estáticos, como se observando no outro a si mesmo, parecia que trocavam sentimentos, de maneira singular e tão incerta, na dúvida se o outro lhe retribuiria o cortejo ou se bateria as asas pra bem longe dali. E eu confuso com aquilo, desisti da cena quando o sabiá de fato voou. Ficou então aturdido o outro, olhou pra baixo, esquerda, direita, baixo, alto, direita e pra frente. Seu enamorado voltara com um ramo no bico. Soltou no chão como presente e esperou um "sorriso". O outro olhava apaixonado. Veio um terceiro em rasante, roubou-se o ramo. Passarinhos...